100 minutos de contacto com o português
«Umha maneira que temos de saber se compreendem é fazendo piada, e se rim é que entendem», comenta Valentim R. Fagim
Quarta, 11 Maio 2011 08:11

Ana Saa (*) - O galego é útil. Essa é a conclusom a que chegam os alunos depois de participar no obradoiro “Ops! O português simples”, ministrado pola Associaçom Galega da Língua (AGAL). Em 100 minutos os estudantes entram em contacto com o português, descobrem a potencialidade da língua, aprendem a distinguir ‘falsos amigos’ e conhecem sites onde encontrar material (cançons, películas...) com que continuar a aprender de maneira autónoma.
O primeiro minuto adoptam cara de susto. Aos três minutos os seus ouvidos já estám afeitos à nova fonética. E depois de 100 querem seguir aprendendo. Som muitos os alunos galegos de mais de 12 anos que entrárom em contacto por primeira vez com o português através de “Ops! O português simples”, um obradoiro lecionado pola Associaçom Galega da Língua (AGAL) nalguns centros de ensino secundário. “Som muitos os rapazes que nom sabem ainda que o galego lhes pode servir para falar português”, afirma Valentim R. Fagim, presidente da AGAL e professor de português. “Quando tinha 19 anos ninguém me explicara que com o galego era capaz de aprender e entender o português, por isso as ‘vítimas’ dessa geraçom ‘frustrada’ decidimos pôr em marcha esta iniciativa”, aponta.
Os docentes começam a falar o português na sala e quando os alunos nom entendem umha palavra ou expressom devem fazer um estalo com os dedos para que lhes expliquem o que significa. “Umha maneira que temos de saber se estám a atender ou compreendem o que lhes dizemos é fazendo piada, e se rim é que entendem o que lhes explicamos”, comenta o filólogo.
As aulas, dum total de 100 minutos, dividem-se em quatro partes. Na primeira unidade (“Ler está ao alcance dos nossos olhos”) demonstra-se-lhes que um texto em português pode ser lido à galega sem esforço. Na segunda (“Temos muito que ganhar”) descobrem os países que falam português, a potencialidade de Brasil e o tamanho que tem esse país. “Os alunos descobrem a vantagem competitiva que tenhem a respeito de outros rapazes de cidades como Madrid”, assegura Valentim R. Fagim. “Neste sentido os galegos somos especiais”, acresce.
Na terceira unidade (“Sabemos muito mas nom devemos confiar-nos”) aprendem que, ainda que se emprega um léxico comum, podem topar dificuldades lexicais (sinónimos, falsos amigos, palavras modernas...). E por último (“Podes aprender tu próprio/a”), os estudantes forncecem-se de sites nos quais encontrar música, cinema, livros, textos, jogos... para aprender de maneira autónoma através da Rede.
Valentim R. Fagim num ateliê para ensino secundário
O rural e a cidade
Nom é um mito que nas grandes cidades se fala mais castelhano e que no rural predomina o galego. “Nas zonas rurais o português parece um complemento do galego, enquanto para um setor das grandes cidades o galego e o português som vistos como línguas estrangeiras”, manifesta o presidente da AGAL. “Quando num instituto do rural sai a palavra ‘bochecha’ todos os rapazes a conhecem de empregá- no dia a dia, mentres que nas cidades aprendêrom-na ou numha aula de galego ou com os desenhos animados de Shin-Chan, mas nom a utilizam nunca”, explica Fagim.
Também há diferenças quanto ao contacto que há com gente de Portugal no norte e no sul. “Nos centros de Vigo, por exemplo, é fácil topar rapazes que tenham amigos portugueses e um contacto próximo com a língua, mas os nenos e nenas do norte tenhem um vocabulário mais rico apesar do escasso contacto com gente do país vizinho”, comenta Valentim R. Fagim. “Por este motivo, no rural há mais resistência a dominar a norma, mentres que os castelhano falantes tenhem a vantagem de aprendê-la correctamente e usá-la segundo o aprendido”, afirma.
Vários atores som os responsáveis desta carência. “Nom podemos culpar só à Administraçom, seria bom fazer autocrítica e perguntarmos por que o português nom ocupa todo o lugar que deveria”, reflexiona o presidente da AGAL.
Unidade didática
Qual é a visom que tenhem os estudantes galegos do português? “Sabem que é umha língua estrangeira, fácil de entender e próxima, mas com a qual nom interagem”, comenta Valentim R. Fagim, e expom as duas vias para o seu aprendizado: “Pode-se ministrar como segunda língua estrangeira ou poderia-se incluir como unidade didática na matéria de língua galega”. Ademais, “há procura, mas nom existem vagas oficiais para docentes em português, mas para alemao, por exemplo, sim”, di.
Achegar-se hoje em dia ao português nom resulta tam difícil. “Antes nom encontravas muitos livros em português e nom havia Internet, mas agora qualquer rapaz pode aprender procurando na Rede música, filmes ou textos”, explica o docente.
Os centros em que se leccionará o curso esta semana(*) som IES Melide, IES Martaguisela (Barco de Valdeorras), IES Meendinho (Redondela), A Nossa Senhora da Esperança (Vigo) e IES Politécnico de Vigo.
Os alunos de primário, os próximos
Os obradoiros que se ministram na atualidade vam dirigidos a estudantes maiores de 12 anos, que cursem ciclo superior de primário, secundário, bacharelato, Formaçom Profissional ou ensino de adultos. Mas a partir do próximo curso escola, a AGAL iniciará uns obradoiros destinados ao ensino primário através da figura do ‘Come come’ em colaboraçom com Carlos Valcárcel. “Aos mais pequenos custa-lhes mais aprender as diferenças de idioma, por isso recorreremos a umha personagem conhecida por eles para achegá-los ao português através do jogo”, explica Fagim.
Ademais, do 4 ao 9 de julho terá lugar em Santiago de Compostela o festival éMundial. “O nexo comum estará nas pessoas e realidades que falam a nossa língua com diferente musicalidade, cores e formas”, adianta o presidente da AGAL. Haverá exposiçons, mesas redondas, concertos, gastronomia e cinema que ponham de manifesto essa proximidade entre o galego e o português.
APorto é o nome dos cursos que a Associaçom Galega da Língua ministrará no mês de agosto na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em colaboraçom com Andaime, umha plataforma galega que promociona a língua e cultura galegas no ámbito da lusofonia. As jornadas estám focadas à expresom oral e “estám abertas ao público em geral, sobretodo a docentes de secçons bilingües interessados em aprendê-lo bem para leccionar aulas em português”, afirma Valentim R. Fagim. Por agora, o IES 12 de Outubro de Ourense é o único que conta com secçons bilingües em português.
(*) Reportagem publicada originariamente n'O Cartafol, semanário do ensino galego, de 12 de abril de 2011. Ortografia adaptada com permissom da autora. A reportagem original pode ser consultada ou descarregada aqui em formato PDF.