Pessoas de diferentes sensibilidades chegadas de todo o país, e mesmo do exterior, na homenagem a Carvalho Calero no centenário do seu nascimento
A colocaçom de umha estátua em Compostela foi a actividade central, mas a programaçom principiou dias antes e neste mês tem continuidade
Terça, 02 Novembro 2010 00:00

Detalhe da estátua dedicada ao professor Carvalho Calero, iniciativa civil impulsionada pola Fundaçom Meendinho
PGL - O centenário do nascimento de Ricardo Carvalho Calero, vulto principal do reintegracionismo e Membro de Honra da Associaçom Galega da Língua, está a mobilizar pessoas de sensibilidades muito diferentes, de toda a Galiza e mesmo do exterior, que reivindicam a atualidade do seu legado. O ato central aconteceu o sábado em Compostela, com o descerramento de umha estátua na sua honra.
A estátua foi colocada muito perto da casa da rua Carreira do Conde, onde o professor Carvalho Calero residiu os últimos anos da vida; e do liceu Rosalia de Castro e da que foi sede da Faculdade de Filologia da Universidade de Santiago de Compostela, na Praça de Maçarelos, onde exerceu a docência de língua e literatura, sendo titular da primeira cadeira universitária.
O monumento foi promocionado pola Fundaçom Meendinho, que solicitou contributos populares e de diferentes entidades e instituiçons. O principal foi da associaçom de empresários graniteiros do Porrinho, que cedeu a base, de Rosa Porrinho, sobre a que repousa a estátula, elaborada polo escultor José Molares, quem estava também presente.
O ato foi apresentado por Margarida Martins, da Fundaçom Meendinho. Afirmou que nom foi fácil concretizar esta homenagem e agradeceu a todas as pessoas que contribuírom para que a obra fosse possível, muitas com presença ativa. “Dentro de todos nós ficará sempre o orgulho de termos feito realidade este projecto”, afirmou Martins. Agradeceu o apoio e colaboraçom da CIG, da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP), Universidades galegas, Associação Sócio-Pedagógica Galiza-Portugal (ASPG-P), Associaçom Galega da Língua e Concelho de Santiago, com especial mençom para o clúster de granito que realizou a base.
Patronos e patronas da Fundaçom Meendinho,
entidade impulsionadora da estátua
Oradores
Na continuaçom participárom diversos oradores, em representaçom de instituiçons e entidades diversas.
Os primeiros em falar fôrom Javier Garbayo e Manuel Fernández Iglésias, vice-reitores das universidades de Santiago de Compostela e Vigo, quem salientárom a personalidade de Carvalho.
Pola Universidade da Coruña falou a professora Maria Pilar García Negro, quem frisou como o Departamento de Galego-Português dessa instituiçom, ao qual ela pertence, se nutre de alunas e alunos de Carvalho Calero, que se consideram discípulas/os dele e trabalham pola vigência da sua obra, que precisa de ser reeditada por ser muito valiosa. Reprovou o “clamoroso silêncio doutras instituiçons” e ressaltou o trabalho de Carvalho “tam silencioso como silenciado”, mas “ao serviço da naçom” e com valor histórico incomensurável. Apelou à necessidade de “ser galegos a tempo completo” como o foi Carvalho Calero.
Martinho Montero Santalha, como presidente da AGLP, qualificou o ato de homenagem como “de justiça à memória do mestre Ricardo Carvalho Calero”, de quem destacou a defesa da língua e o estudo da nossa literatura. Leu um poema de homenagem, intitulado “A palavra de D. Ricardo Carvalho Calero”, e que finalizava com estes dous versos:
Viva o futuro da ciência do amor e do trabalho
Viva a palavra viva do professor Carvalho
José Paz, como presidente da ASPG-P, lembrou a sua amizade com D. Ricardo, graças a quem entrou no Reintegracionismo, segundo reconheceu. Reivindicou o seu labor pioneiro como renovador pedagógico, no Colégio Fingoi de Lugo, onde seguiu a doutrina da Institución Libre de la Enseñanza. Memorou a participaçom, em 1983, num congresso, em Barcelona, a proposta dele; e insistiu em reivindicá-lo como “pioneiro da renovaçom pedagógica e renovador”. No final do ato, Paz entregou o texto de um artigo sobre esta questom que enviou para publicar esse mesmo dia num jornal galego.
Valentim Rodrigues Fagim, presidente da AGAL, referiu o concurso musical sobre Carvalho Calero, que se resolveu no dia anterior, e em que se escolhérom ganhadores umha cantora angolana e um músico espanhol. Apelou a que o século XXI seja o do Galego-Português e o de Carvalho Calero.
Guadalupe Rodríguez, vereadora do Concelho de Santiago, deu os parabéns às pessoas que fizérom possível o monumento, e para o escultor. Afirmou que depois de 100 anos “isto tinha que ser”, e almejou “mil primaveras mais” para a nossa cultura e para a nossa língua.
Elvira Cienfuegos, também representante do Governo Municipal de Compostela, reagiu feliz por se ter incorporado às zonas verdes da cidade um monumento de acolhida a Ricardo Carvalho Calero. Lembrou Ângelo Casal, quem presidiu a Cámara Municipal da cidade e que, na sua profissom de editor, publicou algum dos livros de Carvalho Calero. Salientou que Carvalho tivo oportunidade de regressar à cidade onde tinha estudado depois da Guerra, para exercer no Instituto Rosalia de Castro e na Universidade de Santiago, destacou o significado de Carvalho na cultura galega e qualificou a estátua de “obra magnífica”.
Margarida Carballo Calero, filha do homenageado, agradeceu esta actividade. Lembrou como o seu pai chegou com 16 anos como aluno da Universidade de Santiago e como depois do que sofreu na Guerra de Espanha de 1936, no cárcere e no desterro, se preparou “para voltar aquí”.
Ramiro Parracho Oubiña, secretário confederal da CIG, afirmou que este sindicato “nom tivo a menor dúvida em participar na homenagem” e salientou de Carvalho Calero a “defesa da cultura e da língua galega”. Dixo que os valores de Carvalho tenhem “mais valor que nunca” polos ataques à língua na atualidade. Reclamou da sociedade maior uso do galego para defender umha das “identidades básicas do nosso povo”, qualificou a homenagem como “ato de justiça” e epelou a seguir colaborando e a fazer actos destas características.
Alexandre Banhos, como presidente da Fundaçom Meendinho, referiu-se a Carvalho Calero como “exemplo de coerência e de integridade” e como pessoa que agiu “ao serviço do povo galego”. Defendeu que honrando Carvalho “honramo-nos a nós” e afirmou que Galiza é um povo que tem memória e que homenageia a quem o faz grande. Mostrou-se agradecido a Ricardo Carvalho Calero “polo moito que nos deu e nos segue a dar” e finalizou a intervençom com vivas a Galiza e a Carvalho Calero.
Descerramento e hino galego
Na continuaçom aconteceu o descerramento da estátua, um magnífico monumento de bronze de José Molares, como ficou assinalado.
Na base, no frente, além do nome de Ricardo Carvalho Calero constam “Ferrol. 30.10.1910” e “Santiago de Compostela. 25.03.1990”, como referência às cidades e datas em que nasceu e morreu, respectivamente.
Na esquerda constam, por esta ordem, a Fundaçom Meendinho, Universidades Galegas, AGLP, AGAL, ASPG-P, CIG e Achegas Populares, para lembrar as diferentes contribuiçons para poder erigir este monumento.
E na direita, a inscriçom da seguinte frase:
A fala da Galiza, o português de Portugal, o português do Brasil e os portugueses dos distintos territórios lusófonos formam um único diassistema lingüístico conhecido entre nós popularmente como Galego e internacionalmente como Português.
Encerrou-se a homenagem com a interpretaçom do Hino Galego por gaiteiros da Gentalha do Pichel.
Participantes
Para além das pessoas já assinaladas, participárom no acto outras que se deslocárom desde diferentes cidades, vilas e lugares da Galiza e da própria comarca de Compostela. Entre elas José Luís Rodríguez, Isaac Alonso Estraviz, Bernardo Penabade, Luís Gonçales Blasco, Ana Pontón, Carme Fernández Pérez-Sanjulián, Manuela Ribeira Cascudo, Anxo Louzao, Rubén Cela, Artur Alonso Novelhe, José Manuel Barbosa, Concha Rousia, Ana Cabanas, Ramom Reimunde, outros familiares de Carvalho Calero, e umha ampla representaçom da comunicaçom social.
Depoimento
Finalizada a homenagem, a deputada do BNG no Parlamento Galego, Ana Pontón, ofereceu um depoimento à comunicaçom social, recolhida por diferentes meios, em que criticava a ausência do Governo autonómico da Galiza nas homenagens.
Esta representante do nacionalismo político galego esclareceu que a sua participaçom nesta homangem se devia ao facto de acreditar que Carvalho Calero “foi umha pessoa que loitou durante toda a sua vida pola recuperaçom da língua galega e a normalizaçom da nossa língua, e que se entregou à defensa da cultura galega, polo tanto tamém o nosso reconhecimento a todas as entidades civís que no dia de hoje, no que se cumprem 100 anos do seu nacemento decidírom fazer-lhe esta homenagem. Lamentablemente tamém temos que dicir que a Xunta de Galiza tem esquecido completamente a figura de Ricardo Carvalho Calero. Cremos que é lamentable que a máxima institución deste país se esquecera de umha data tam relevante para a nossa cultura, pero que em todo o caso é umha mostra mais da política antigalega que está seguindo o Partido Popular, da política de esquecemento e de menospreço dos nossos creadores e creadoras, das pessoas que defendem a cultura deste país, na que a Xunta se está empenhando a fondo. Cremos que o Conselheiro de Cultura e o próprio Presidente da Xunta pois deveriam no dia de hoje sentir vergonha porque a máxima institución deste país nom tenha feito nengum acto de lembrança nem de recordo de quem tanto deu por Galiza”.
Vídeo na íntegra do ato de inauguraçom
Mais programaçom
Na sequência desta homenagem em Compostela, a directora do Departamento de Galego-Português da Universidade da Corunha, Carme Fernández Pérez-Sanjulián, anunciou o congresso que se vai realizar nessa instituiçom dos dias 24 a 27 deste mês.
Também Alexandre Banhos, presidente da Fundaçom Meendinho, confirmou que esta entidade organiza um congresso em Ourense e Vigo neste mês.
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