Entrevista a Xoán Montero, novo presidente da DPG

"O governo galego não fez uma aposta forte no português devido a duas razões: a primeira é o pensamento centralista que sempre tiveram os diversos governos [...]; a segunda, tem a ver com as figuras públicas do 'galeguismo cultural', que nunca solicitaram publicamente a introdução do português no ensino público"

Sexta, 11 Novembro 2011 19:05

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Xoán Montero, novo presidente da associação Docentes de Português na Galiza

PGL - Recentemente, a associação Docentes de Português na Galiza (DPG) mudou a sua direção. Filipe Presas, professor de português na EOI de Vigo deixa o seu lugar a Xoán Montero, profesor doutor de tradução na Universidade de Vigo. O PGL quis entrevistá-lo para conhecer a situação do ensino de língua portuguesa na Galiza e as linhas de ação da DPG sob a nova direção.

Recentemente a DPG recebeu o prémio Via Galego. Como foi recebida esta notícia na direção da DPG?

É uma honra para a Associação de Docentes de Português da Galiza receber tal prémio. Agradecemos à Fundação Via Galego o facto de ter pensado em nós como merecedores do mesmo.

Quais as atividades de tipo formativo e de difusão e fomento do ensino do português na Galiza que pretendem ser desenvolvidas ao longo deste novo período da associação?

A DPG tem a ideia de continuar com o trabalho levado a cabo pela anterior direção, presidida pelo colega Felipe Dominguez, como é o facto de seguir com os Encontros de Didática do Português e os Troca-Troca. Para além destas atividades, a DPG quer pôr em andamento a I Escola de Verão para professores de português – mas isto por enquanto é só uma ideia. A DPG gostava também de incentivar os seus sócios a organizarem mais cursos ao longo do ano. Pessoalmente, tenho a esperança de que a DPG ganhe cada vez mais peso no panorama galego e que a diversificação das suas atividades continue a ter uma repercussão positiva no professorado e nos alunos de língua portuguesa da Galiza.

O conhecimento da língua portuguesa está a ser um requisito laboral cada vez mais solicitado

É claro que o conhecimento do português está a abrir cada vez mais portas para o mercado laboral. Mas este facto não é novo. Desde a criação da DPG soubemos que a introdução de português no ensino secundário seria um ponto forte para os e as alunas na hora de procurarem emprego. Assim sendo, a DPG não pode deixar de ter o mercado laboral como um dos seus alvos. Mas também quero que fique claro que este novo presidente só tem a intenção de puxar por aquilo que ele considera que tem de ser: um ensino público e de qualidade.

Em sua opinião, que espaço deveria ocupar a Língua Portuguesa no espaço educativo galego, nomeadamente ensino secundário e bacharelado?

Do meu ponto de vista, o português teria de estar presente em todo o sistema público: primário, secundário e bacharelato – uso a terminologia do sistema educativo vigorante na Galiza. De qualquer maneira, sim considero um erro capital não ser uma disciplina obrigatória de segunda língua estrangeira no secundário e no bacharelato.

A situação laboral dos professores/as de português é a mesma a respeito das outras línguas estrangeiras (inglês, francês ou alemão)?

É claro que não. Embora tenhamos professores a ministrar docência de português no Ensino Secundário (professores dos Departamentos de Galego que têm a vaga em Língua e Literatura Galega), não temos por enquanto vagas públicas da especialidade de Língua Portuguesa. E isto equivale a dizer que não temos especialistas de língua portuguesa a ministrar essa docência

Por que acha que a língua portuguesa não é, em contraste com a Extremadura, uma opção estratégica para o governo galego?

Do meu ponto de vista, o governo galego não fez uma aposta forte no português devido a duas razões: a primeira é o pensamento centralista que sempre tiveram os diversos governos que passaram pela Galiza ao longo destes anos; a segunda, tem a ver com as figuras públicas do “galeguismo cultural”, que nunca solicitaram publicamente a introdução do português no ensino público.

Qual é a situação do ensino do português nas EOI? Para onde se deveria avançar?

Considero que a situação nas EOI é das melhores no ensino público a respeito do português. Porém, acho que se tem de continuar a avançar e oferecer cursos de português naquelas escolas (Viveiro, Ribadeo, Monforte) e secções de EOIs (Ordes, Ribeira, Cangas, a Estrada, Verín) que ainda não o têm.

No panorama universitário galego atual, - Sistema Bolonha -, as línguas estão a ter um papel cada vez mais importante, daí que os formandos tenham de acreditar uma nível de conhecimento B1 numa língua estrangeira.  Quais as vantagens da escolha do Português para os alunos e alunas da Galiza?

Os alunos galegos, com muito pouco esforço, atingem o nível B1. É por isso que consideramos que o ensino de português nas universidades galegas devia ser reforçado com a criação dos novos cursos adaptados a Bolonha. Tudo, porém, parece indicar que o trabalho feito não foi nesse sentido. Contudo, tenho que dizer que a presença do português nos estudos de Tradução e Interpretação da Universidade de Vigo não se viu muito reduzida no novo Plano de Estudos.

Qual acha deveria de ser o papel da língua portuguesa nas novas seções bilingues que a Junta está tanto a potenciar?

Na qualidade de presidente, tenho de admitir que não sou partidário de oferecer línguas estrangeiras nas seções bilíngues, dado elas terem surgido no contexto do “Decreto do Plurilinguismo”, potenciado pelo atual governo galego. Porém, como também considero que temos de ir com os tempos e não ficar ancorados no passado, penso que a língua portuguesa tem de estar ao mesmo nível que a inglesa ou a francesa. De qualquer maneira, a Xunta, por enquanto, não está a oferecer a possibilidade de introduzir o nível de português necessário para ministrar a docência nesta língua. É uma opção pessoal de um determinado professor; tal e como acontece nas duas seções de Formação Profissional onde há português: IES San Clemente, em Santiago e IES Politécnico, em Vigo.

Qual é a posição e/ou função que a DPG pretende alcançar dentro do ensino do português como língua estrangeira a nível internacional?

A DPG é uma associação que tem de defender um ensino público de qualidade na Galiza, nomeadamente no que tem a ver com o português. Acho que esta é a melhor maneira de atingir um bom posicionamento para a língua portuguesa a nível internacional.

Qual seria, na opinião da DPG, a situação ideal de relacionamentos com a administração portuguesa e outras instituições portuguesas e doutros âmbitos vinculadas ao ensino do português?

Um dos fins da DPG é estabelecer uma rede de relações e protocolos de colaboração com outras associações e com entidades internacionais ligadas ao ensino do Português. Assim, desde os inícios da Associação, mantemos muito boas relações com o Instituto Camões (onde houve um bom diálogo nestes três últimos anos) e com algumas pessoas destacadas nas atividades da APP (Associação [Portuguesa] de Professores de Português) – relações que gostaríamos de manter e reforçar. De qualquer maneira, considero que o bom funcionamento do Eixo Atlântico seria ideal para estabelecer as ligações de que as instituições galegas e portuguesas precisam.